‘Sou criadora de conteúdo adulto, creio em Deus e fui expulsa da igreja onde cresci por causa da minha profissão’

‘Sou criadora de conteúdo adulto, creio em Deus e fui expulsa da igreja onde cresci por causa da minha profissão’

  • 02/07/2025 19:58
  • Redação/Assessoria

Gabriely Della Colleta, de 24 anos, conta que se sentiu oprimida dentro da igreja onde cresceu em Londrina, no Paraná, quando buscava conforto durante uma depressão profunda: ‘Dentro da igreja, ninguém é 100% fiel ao que é dito na Bíblia’

 

Foi num período depressivo que Gabriely Della Colleta, 24 anos, quis voltar à igreja onde cresceu, em Londrina, interior do Paraná. Evangélica de criação, ela havia se afastado na adolescência sem nunca deixar de lado tradições como as orações antes de comer e dormir. “Cresci ali. Meu avô era ministro e minha mãe dava aula para as crianças, ensinava as histórias da Bíblia”, diz. Nem mesmo os laços com pessoas que ocuparam cargos importantes na igreja conseguiram poupá-la de uma expulsão em junho deste ano. O motivo? Gabriely é criadora de conteúdo adulto.

Ao longo dos últimos dois anos, em que começou a vender fotos e vídeos eróticos on-line, as falações e cochichos por suas costas viraram rotina. Depois que vídeos seus começaram a vazar e pessoas próximas descobriram seu ofício, Gabriely viu amigos se afastarem. Em uma das ocasiões, o próprio pai chegou a receber um conteúdo da filha pelo WhatsApp.

Quando decidiu que queria assistir a um culto, sabia que haveria olhares. Mas ela conta que não estava preparada para o que, de fato, aconteceu. “Entrei e fiquei nos bancos de trás por vergonha. Na hora que levantei para entregar o dízimo, começou uma falação fora do normal. Me chamavam de promíscua, diziam que eu sujava a imagem da igreja e que não deveriam se vincular a ‘uma pessoa dessas’. Me senti mal e oprimida”, lembra.

A reação dela foi de choque total. “Fiquei paralisada, me debulhando em lágrimas. Uma amiga que estava comigo percebeu e só me arrastou para dentro do carro”, conta. Gabriely não quer que o nome da igreja seja divulgado por segurança.

Antes de vender conteúdo, Gabriely era vendedora em uma loja de roupas infantis. Hoje, com o rendimento do mundo +18, consegue pagar a faculdade de biomedicina e passou a ajudar ainda mais os pais financeiramente — que sabem o que ela faz para viver e a apoiam.

Criadora de conteúdo adulto, Gabriely Della Colleta fala de preconceitos e expulsão de igreja onde cresceu por sua profissão

Criadora de conteúdo adulto, Gabriely Della Colleta fala de preconceitos e expulsão de igreja onde cresceu por sua profissão — Foto: Divulgação

 

“Quando posto qualquer conteúdo ou digo que crio conteúdo adulto, as pessoas falam: ‘Essa daí nasceu sem pai, não tem família’. Longe disso. Tenho, sim, pai e mãe, que estão comigo para o que der e vier. Não rebato esses comentários porque não preciso provar nada a ninguém, mas eles estão comigo e me respeitam”, diz.

O apoio dos pais e as amizades verdadeiras que fez com outras meninas que compartilham do mesmo ofício, é claro, ajuda. Mesmo assim, ela diz, toca uma vida solitária por conta do preconceito.

“A gente passa a viver uma vida muito isolada, mas, ao mesmo tempo, com muita exposição. O dinheiro realmente vem fácil e em grande quantidade, mas não compra amizades e bons momentos. Em baladas, os caras sequer me conhecem e já chegam beijando, pensando que sou 100% como me mostro na plataforma e estivesse sempre disponível. Mas não é assim, e não romantizo a criação de conteúdo. É um mundo difícil”, desabafa.

Criadora de conteúdo adulto, Gabriely Della Colleta fala de preconceitos e expulsão de igreja onde cresceu por sua profissão — Foto: Divulgação

Criadora de conteúdo adulto, Gabriely Della Colleta fala de preconceitos e expulsão de igreja onde cresceu por sua profissão — Foto: Divulgação

 

Gabriely começou a criar conteúdo +18 por acaso. Numa madrugada, postou um vídeo no TikTok que marcou um pedaço de sua vulva. Na manhã do dia seguinte, o post alcançou 3 milhões de visualizações. No Instagram, o mesmo vídeo atraiu 5 milhões de visualizações dentro de uma semana.

“As pessoas me pediam fotos avulsas, mas eu não sabia nem o valor que deveria cobrar. Um amigo me incentivou a abrir uma conta numa plataforma, e fiz isso na TopFans. Já na primeira semana, faturei R$ 15.000”, lembra.

Em dois anos, começou a crescer tanto com os vídeos da plataforma adulta quanto em redes sociais como Instagram e TikTok — em que publicava conteúdos humorísticos, não explícitos. Mesmo não violando as políticas de conteúdo das plataformas, teve uma conta com 80 mil seguidores derrubada em outubro de 2024.

De lá para cá, seu número de assinantes caiu e ela se vê tendo de recomeçar. “Quando você perde tudo e tem que recomeçar, é difícil tanto porque o alcance do algoritmo não é o mesmo como pelo preconceito. Imagina só: você fez tudo o que você fez, mostrou tudo o que tinha para mostrar e virou ninguém. Para quem é de cidade pequena, isso fica ainda mais difícil”, conta.

“Entrei numa depressão profunda, que foi o que me fez querer voltar à igreja que sempre frequentei. Não estava me encontrando, não queria ficar tomando remédio nem me afundar numa cama. Fui procurar ajuda espiritual para tentar confortar meu coração.”

 

Rede de apoio

 

Criadora de conteúdo adulto, Gabriely Della Colleta fala de preconceitos e expulsão de igreja onde cresceu por sua profissão — Foto: Divulgação

Criadora de conteúdo adulto, Gabriely Della Colleta fala de preconceitos e expulsão de igreja onde cresceu por sua profissão — Foto: Divulgação

 

Depois da violência que viveu na igreja, Gabriely se surpreendeu quando o apoio veio de onde menos esperava: da plataforma em que vende suas fotos e vídeos. Ela conta que o CEO da empresa prontamente ofereceu apoio psicológico — que ela aceitou — e mantém contato frequente por mensagem. “Ou seja, uma plataforma de conteúdo +18 me deu apoio e a igreja me virou as costas”, diz.

A situação também a fez perceber que, talvez, estar na igreja não seja a única maneira de se manter em contato com Deus — com quem ela conversa em casa, agradece ao olhar para o céu, por estar viva.

“Às vezes, tudo isso aconteceu para eu ver o quão mais forte Deus é no meu coração, não só na igreja”, afirma. “Dentro da igreja, ninguém é 100% fiel ao que é dito na Bíblia. É impossível não ter pecado. A igreja é muito severa, só que ela não abre espaço para as pessoas estarem ali dentro, tem apontado muito o dedo. Só que Deus ama todo mundo sem escolher. E sei que Ele está comigo em todas as ações que tomo, que sabe do meu coração, da minha bondade. Peço que Ele abra minha cabeça e me faça uma pessoa melhor todos os dias.”

  • Fonte: revistamarieclaire
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